segunda-feira, 23 de julho de 2012

Polícia X Sociedade Civil

sábado, 21 de julho de 2012

Polícia está medindo forças com a sociedade. Agora, SP inteiro virou um Pinheirinho!

Precisava escrever um post falando de violência policial.
Vou tentar fazer isso com algum cuidado, escolhendo bem as palavras.
Confesso que sinto medo da Policia de São Paulo. Afinal de contas já fui vitima de violência policial da maneira mais torpe e gratuita, sofrendo ameaças durante um tempo por resistir e denunciar o ocorrido.
E não sou único. Conheço muita gente que diz sentir mais medo da policia do que do bandido. Talvez isso seja um exagero, mas para esta frase se tornar coisa comum nas ruas da cidade é porque as coisas chegaram no limite.
Embora seja sociólogo, não sou teórico do assunto. Existem intelectuais com estudos muito interessantes sobre o tema que poderiam colaborar com muito mais qualidade.
Quero manifestar meu respeito aos policiais honestos, honrados e corajosos que enfrentam perigos cotidianos e não são reconhecidos de maneira adequada pelo governo. Tenho gente na família que trabalha na corporação e admiro muito o empenho e honestidade.
Porém não vou aqui tratar dos indivíduos, mas da estrutura.
Que a policia sempre foi violenta não é novidade para ninguém.
Que torturou, matou, escondeu cadáveres e ofereceu serviços históricos a alguns ditadores que governaram este país, existem documentos nos arquivos públicos e nas universidades para comprovar.
Mas neste último período, o Governo do Estado de São Paulo, por meio de sua policia, não tem feito esforço algum para esconder o seu viés autoritário.
Tendo em vista o comportamento recente da policia de São Paulo, fica a impressão que ela está medindo forças com a sociedade civil.
A recente mobilidade social neste país não ocorreu sem causar resistências e ressentimentos.
A hierarquia de classes e os velhos privilégios parecem estar sob ameaça e geram resistência.
Se o Brasil não conseguiu ainda oferecer aos seus cidadãos condições reais de vida digna com acesso aos principais direitos sociais, a diminuição da desigualdade, ainda que tênue, vem impulsionando mudanças definitivas na nossa sociedade.
A entrada de milhões de brasileiros no mercado de consumo talvez tenha sido a mudança mais notável.
No entanto, existe uma mudança gigantesca que pouca gente se deu conta. É muito difícil de captar porque ela ainda esta no campo do imaginário desta gente.
A igualdade social se tornou um valor cada dia mais presente na vida das pessoas.
Do nosso jeito, cheio de contradições e imperfeições, estamos construindo um novo país. A sociedade brasileira está em ebulição. Se ainda não se trata de uma ebulição política, ao menos estamos vivendo transformações sociais e culturais que inevitavelmente irão refletir no desenho de nossas instituições.
E isso causa arrepio na elite conservadora!
Quando digo que o Estado de São Paulo colocou a policia para medir forças com a sociedade, é porque funciona assim: do lado deles estão os "cidadãos de bem", inevitavelmente pacatos, satisfeitos e silenciosos. Do lado de cá está a massa crítica perigosa. São todos maconheiros, sindicalistas, viados, vagabundos, favelados, traficantes, torcedores organizados, invasores de terra, grevistas, ciclistas, camelôs, detentos, bêbados, boêmios, artistas de rua, professores, arruaceiros, estudantes, vândalos, etc.
E os conservadores sorriem satisfeitos quando a policia desce o porrete em todos estes grupos indesejáveis para o caráter pacifico e ordeiro do nosso estado.
Seja na ocupação da USP, na repressão às manifestações pacificas, na provocação gratuita em eventos sociais ou até mesmo na comemoração das torcidas por seus raros campeonatos conquistados a ordem é sempre a mesma, demonstrar força e impedir esta sociedade de respirar, conviver e acreditar em si mesma.
Ao promover o chefe da operação no bairro do Pinheirinho à Comandante Geral da Policia de São Paulo, o senhor governador deu mostras claras do que ele pretendia para a nossa polícia.
Portanto, escrever cartas de desculpas depois que esta policia executa pessoas inocentes não passa de dissimulação.
O governador anunciou que irá indenizar o empresário morto no Alto de Pinheiros, fuzilado pela policia dentro do seu carro.
Nada mais justo, porém insuficiente para reparar a perda de sua vida.
Mas chega a ser curioso o caráter dessa gestão tucana. A morte de um empresário de classe média alta merece o pronto reconhecimento do estado e pagamento de um valor compensatório. Já a morte cotidiana dos "pretos, pobres e putas" (PPP), sequer merece um pedido de desculpas. Seria porque suas vidas já não valiam nada mesmo, para merecimento de uma indenização?
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A busca do povo brasileiro por igualdade e justiça social é um caminho sem volta.
Este povo nunca mais irá aceitar ser tratado como gado. Se a violência policial existe, como sempre existiu, chegou a hora dela deixar de existir. A sociedade não admite mais este tipo de comportamento.
Os poderosos deverão aprender a estabelecer outro tipo de relação com seu povo. O mapa político brasileiro está mudando rapidamente e a força política que não se adaptar, irá desaparecer.
Uma população não deve temer sua polícia, mas respeitar e se sentir protegido por ela.
Durante um grande período, a polícia cumpriu a ingrata tarefa de ser o braço do Estado em locais onde não existiam instituições. Foi a principal mediadora de conflitos e regulação das relações entre indivíduos.
Mas estamos em outro patamar agora. O Brasil não precisa de mais policia, precisa de instituições equivalentes ao nosso momento histórico. Precisamos de justiça, não de porrete.
Estamos em 2012. A ditadura acabou há quase três décadas. A presidenta do Brasil já foi um dia  presa e torturada.
Se a Policia de São Paulo continuar medindo forças com a sociedade irá perder! Estão fazendo tudo errado e a história está aí para nos dar exemplos claros.
Agora, São Paulo inteiro virou um Pinheirinho!

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