quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Até que enfim alguem ,na imprensa diz algo do interesse público e não particular.

Saiu no JB:

Neri anuncia “queda espetacular” das desigualdades


Especialistas atribuem quadro a causas como expansão do mercado de trabalho

Jornal do Brasil
Carolina Mazzi

A queda “espetacular” na desigualdade social do Brasil, anunciada nesta terça-feira (25) pelo economista Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), foi determinada, principalmente, pela expansão do mercado de trabalho, as políticas de transferência de renda e a ampliação no acesso à educação. Além destes, o crescimento de renda acima do Produto Interno Bruto (PIB) também foi um componente importante que reduziu a desigualdade a níveis inéditos no país. Estas são as conclusões de alguns especialistas ouvidos pelo Jornal do Brasil.

Os números da pesquisa apontam uma queda consecutiva na desigualdade, “sem interrupções”, segundo Neri, nos últimos dez anos, o que possibilitou que o índice Gini (usado para medir a distribuição de renda em todo o mundo), fosse reduzido de 0,594 em 2001 para 0,527 dez anos depois. Neste tipo de medição, quanto mais perto do zero, melhor é a distribuição. “O Brasil está hoje no menor nível de desigualdade da história documentada”, disse o economista.

Segundo ele, apesar de ainda ser um dos países mais desiguais do planeta, um movimento como este nunca tinha acontecido. “Desde que a pesquisa começou, as mudanças eram quase nulas, o índice permanecia estável, com excessão da década de 60, quando a desigualdade aumentou”, analisou Neri.

Para o pesquisador do Ipea, Sergei Suarez Dillon Soares, que também participou da divulgação, as pesquisas foram positivas em todos os aspectos e mostram sustentabilidade na queda da desigualdade social do país, já que ela está sustentada no mercado de trabalho.

“Se esta queda estivesse baseada apenas nas transferências, como bolsa família, estes números seriam inferiores, mas a desigualdade diminuiu baseada na entrada de mais pessoas no mercado, além de uma melhora considerável na renda das famílias, que tem tido crescimento bem acima do PIB”, comentou.

Problemas

A economista Maria Beatriz Albuquerque David, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), concorda que os dados são positivos, principalmente para a massa assalariada nacional. “Esta queda se deve à expansão do trabalho e ao aumento da renda, e claro, do Bolsa Família e outras políticas de transferência de renda”, analisa. Porém, ela alerta que a metodologia do Ipea acaba escondendo alguns tipos de rendimento, que caso fossem usados, iriam interferir no resultado final.

“Os números são bons, mostram uma melhora indiscutivel na renda dos assalariados, a diminuição da pobreza. Mas ela está ligada apenas às pessoas que trabalham. O rendimento do capital, ou seja, a renda sob patrimônio, os mais ricos, não foi contemplada”, afirma.

Segundo a especialista, “os níveis de desigualdade seriam muito maiores, caso se utilizassem os dados da renda”. Soares concorda com a professora, mas explica que avaliar os níveis de rendimento do capital “é muito difícil”, pois os dados são de acesso restrito. Ele ainda observa que, mesmo se o Gini piorasse na medição, a tendência de queda da desigualdade poderia se mostrar ainda mais acentuada. “Nós não estamos trabalhando apenas com os números frios, mas com uma tendência. O que vemos é que se o mercado de trabalho está ganhando espaço, provavelmente o rendimento de capital está perdendo terreno”, opina.

Ele esclarece que a metodologia do Ipea é baseada nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), coletados pelo IBGE, e que apesar de falhos, ainda conseguem registrar uma pequena parte deste capital. “Cerca de 20% dos números são de registros fora dos assalariados. Então, apesar de não medir bem, ainda sim, coleta alguma coisa”, opinou.

Maria Beatriz ainda questiona a sustentabilidade desta queda a longo prazo. “A economia está crescendo, mas à base de expansão de crédito e renúncia fiscal. Estas medidas vão atingir seu teto, com o endividamento das famílias, dos bancos. A construção civil já começou a demitir”, explicou.

Educação é “fundamental”

Sem “sombra de dúvida”, a ampliação no acesso à educação foi uma das principais razões para que a desigualdade diminuísse no Brasil, afirma com convicção o economista Fernando de Hollanda Barbosa Filho, professor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV-RJ). Segundo ele, a maior escolaridade do brasileiro foi fundamental para que sua renda aumentasse consecutivamente.

“A educação incorporou pessoas que antes não tinham acesso ao mercado de trabalho. Claro que esta ampliação do mercado, o aumento do salário mínimo foram aspectos importantes, mas a escola garantiu aumento na renda”, analisou. O especialista acredita que, por este motivo, a diminuição da desigualdade é sustentável e a longo prazo. “É preciso investir ainda mais na qualidade e garantir que os alunos completem o ciclo de ensino”, argumenta.

Sergei Suarez Dillon Soares também apontou, brevemente, o problema na educação do país como um dos entraves para a melhora ainda mais significativa do índice. “Não dá para comentar muito, pois não temos dados suficientes, mas posso dizer que é o único aspecto com notícias menos positivas”, afirmou.

Bolsa Família

Os economistas foram unânimes ao elogiar os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Para eles, este foi um dos aspectos diferenciados da última década no combate à desigualdade social. “É um instrumento muito eficaz pois encontra, a um custo muito baixo, as pessoas que estão vivendo na extrema pobreza. Eu diria que é, atualmente, até mais importante que o salário mínimo”, acredita Barbosa Filho

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