terça-feira, 23 de julho de 2013

Retirado do blog " Espirito Corinthiano"

Serra e Kassab: o vandalismo público do século XXI

Durante a última década tivemos a sensível piora no serviço de transporte público metropolitano. Aqui refiro a região metropolitana da cidade de São Paulo (RMSP), embora seja sabido que não é exclusivo dela.
 
Foi um período da história recente Brasileira que alguns indicadores socioeconômicos apresentaram forte variação positiva, como aumento da atividade econômica, elevação real do nível de renda, queda no desemprego, o que naturalmente refletiu na maior demanda por produtos e serviços, como o transporte.

Como veremos neste breve estudo a inoperância dos que deveriam ser gestores da “coisa pública” refletiu em uma piora considerável na mobilidade urbana de quem vive na cidade de São Paulo, tendo reflexo imediato na piora da qualidade de vida.
 
 
Conjuntura e reflexo nos padrões de consumo

O Brasil experimentou na primeira década do século XXI, especialmente a partir da segunda metade, um período de incorporação ao mercado consumidor de uma população que tradicionalmente subsistia. Esse efeito multiplicador a partir do consumo estimulado por rendas mínimas pôde ser sentido, em maior ou menor grau, por todo o País. Na cidade de São Paulo não foi diferente, como vemos no gráfico a seguir:


No período que compreende o final da gestão Marta Suplicy e as gestões da dupla Serra / Kassab o PIB Brasileiro teve crescimento médio anual de 3,74%. A renda média real (já descontando efeitos inflacionários) evoluiu 11%. A população economicamente ativa cresceu 9,4%, incorporando na cidade de São Paulo 939.000 trabalhadores a esta situação, como demonstrado no gráfico1:



O aumento do poder de compra alterou o padrão de consumo o que proporcionou que antigas necessidades reprimidas fossem aos poucos satisfeitas, como, entre outros bens, imóveis e automóveis.

No caso de São Paulo, mais do que status um automóvel na maior parte dos casos é necessidade frente a um cada vez mais precário transporte coletivo público.

No gráfico abaixo observamos a chocante evolução da frota total de veículos na cidade, e sua proporção frente ao aumento populacional:


No período a cidade “ganhou” 4.264.557 veículos, entre carros, ônibus particulares, caminhões, reboques, micro-ônibus, caminhonetas e motocicletas, um aumento de 65% sobre a frota de 2004 2. A relação habitantes por veículos caiu expressivos 35%. Ao final da gestão Kassab eram 1,84 habitantes por veículo na cidade.

Naturalmente este choque positivo de demanda, associado a: (1) estabilidade econômica, (2) crescente geração de emprego, (3) liquidez monetária (oferta de crédito) tiveram efeito sobre os preços totais do custo de vida na cidade.

Desde 2009 fala-se de obras como a "Nova Marginal". Ainda não está entregue totalmente. Não refletiu positivamente no trãnsito, apesar das crescentes proibições, como a não circulação de caminhões na cidade das 05 às 21 horas, de segunda a sexta, e das 10 às 14 horas aos sábados. Foi orçada inicialmente em R$ 800 milhões. O custo já está em R$ 1,86 bilhão 6, sem escandalizar os meios de comunicação. Nada anormal em se tratando de PSDB, o maior clientes entre os assinantes de jornal e revistas conservadores, através do aparelhamento de suas secretarias 7.

Observando estas transformações no nível nacional e seus reflexos no metabolismo da vida urbana, você, leitor, o que acha que o poder público fez no período que compreende as gestões Serra (PSDB) e Kassab (PSD):

    1) Criou mecanismos que elevasse a oferta de transporte, criando corredores de ônibus, elevando sua velocidade média e melhorando sua ocupação, propiciando mais conforto?

    2) Incentivou o uso do transporte coletivo, reduzindo tarifas uma vez que uma enxurrada de carros nas ruas pioram tanto a qualidade de vida, do ar, o aquecimento da metrópole e cidade perde bilhões de R$ com o trânsito (R$ 40 bilhões em 2012) 3?

  3) Elevou a quantidade de ônibus, uma vez que o aumento expressivo da população economicamente ativa demanda maior utilização de produtos e serviços?

    4) Fez o contrário: aumentou a tarifa acima da inflação da cidade e diminuiu a quantidade de ônibus, transformando os coletivos que restaram em verdadeiras “latas de sardinha”?

Se você, pessimista, respondeu como verdadeiro o INCRÍVEL item 4, você acertou, desgraçadamente.


Punindo o usuário de ônibus

Serra e Kassab, juntos e misturados, elevaram a tarifa do ônibus em 76,47% em sua gestão, num período em que a inflação na cidade foi de 45,66% e a inflação dos transportes, 50,64%.

Serra a Kassab aumentaram as tarifas de ônibus 67% acima da inflação medida pela FIPE.

Assumiram com a tarifa em R$ 1,70. Elevaram para R$ 2,00 em 05/03/2005, para R$ 2,30 em 30/11/2006, para R$ 2,70 em 04/01/2010 e finalmente para R$ 3,00 em 05/01/2011.



Pior que o desincentivo pelo aumento das tarifas foi ver o número de passageiros crescer ao longo dos anos e, na sua tradicional inoperância, ao invés de oferecer reforço a um sistema que passa a atender uma quantidade cada vez maior de pessoas, reduz o sistema, como vemos no gráfico4:



Em 2004 o número de usuários do sistema de ônibus foi de 1.600.000.000. Em 2012, ano em que Kassab deixou a prefeitura com reprovação de 8 em cada 10 paulistanos, o número de usuários foi de 2.600.000.000. Isso mesmo: o número de passageiros cresceu 81% nestes 8 anos.

Paradoxalmente o número de ônibus que era de 14.100 (quatorze mil e cem) em 2004 fechou 2012 com 13.900 (treze mil e novecentos) ônibus.

Charada: o que significa mais pessoas em menos ônibus com uma tarifa 67% acima da inflação? É VANDALISMO POLÍTICO OU NÃO É?

Isso faz parte da lógica do capitalismo: a maximização (até a exaustão) dos lucros. Os trabalhadores pagam o preço monetária e desconfortavelmente.


Como transformar o sistema de ônibus em “Latas de Sardinha”?

Em 2004, cada ônibus transportou uma média diária de 364 passageiros. Dividindo pelo limite de passageiro previsto em lei, que era na época 65 passageiros, pelo tempo médio de duração de cada viagem (01:24, uma hora e vinte quatro minutos)5 tínhamos que cada ônibus poderia ficar sete horas lotado circulando pela cidade, do total de horas que ele circularia.

Em 2012, mesmo com a alteração na lei que rege o limite de passageiros nos ônibus comuns, passando de 65 para 75 o limite de passageiros, cada ônibus pode ficar circulando lotado por mais de onze horas, um aumento de 60% no índice “Lata de Sardinha”, reduzindo drasticamente a possibilidade de um cidadão encontrar um ônibus que não esteja lotado, com tarifa majorada acima da inflação, extrapolando os lucros dos donos do sistema de transporte.



A mesma lei previa uma lotação máxima de 5 passageiros por metro quadrado foi alterada para 8 passageiros pela mesma metragem, legalizando o aumento do Índice “Lata de Sardinha”.




Haddad herdou dos vândalos do sistema de transporte um grande desafio, uma bucha das brabas! Tinha duas saídas:
 
          ( ) Denunciava nas bases esta situação calamitosa e buscava apoio massivo da população para mudar radicalmente esta situação, ou;
 
              ( ) Sentava com o companheiro Alckmin e juntos combinavam um aumento casado das tarifas, com apenas 150 dias de governo.

O que Haddad inicialmente preferiu?


Não é por R$ 0,20!

Este trabalho ajuda a evidenciar o porquê da gota d’água ter extrapolado a paciência de toda população paulistana quando o assunto é também ônibus! "Não é por R$ 0,20!!!"

Este trabalho também denuncia a forma nefasta com que foi conduzida a política de transportes pela dupla Serra e Kassab ao longo dos anos 2005 e 2012, punindo milhões de trabalhadores com precarização do sistema e aumento expressivo das tarifas.

Pela revogação do aumento das tarifas!

Em busca da tarifa zero!

ps. Nas últimas palavras deste texto foi anunciada a revogação do aumento das tarifas, que haviam sido anunciadas há duas semanas.

A Luta mudou a Vida. Mais uma vez. Porém há muito a ser corrigido.

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"Vândalo é chamado quem destrói ou depreda bens públicos pelo único prazer da destruição ou aqueles que cometem ações selvagens e desalmadas. A acepção atual de vândalo no sentido de depredador provem do adjetivo francês ‘vandalisme’, cunhado em 1794 pelo bispo republicano Grégoire, para criticar os depredadores de tesouros religiosos".

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