terça-feira, 19 de novembro de 2013

Dirceu e Genuino: por que eles não morrem?

Marcos Redher Batista
Braço esquerdo erguido, punho fechado, como se comemorassem o gol da  vitória, contrastando com a porta da Polícia Federal, minutos antes de duas prisões sem resistência. Duas figuras (para tantos, dois mitos), ímãs de um ódio espumante da direita que jamais os nocauteou e mesmo de antigos companheiros de partido, alguns até fundaram outras legendas, e dessa gama de “inimigos” vém outro contraste: pelo menos nos primeiros dias, nenhum ergueu a voz para tripudiar sobre o túmulo… muito provavelmente porque sabem que mesmo que o PT perca eleição ou se estiverem fora do governo eles não morrem.
Incrível que até Cláudio Lembo reapareceu para defendê-los; o próprio Serra certa vez se negou a chamá-los de mensaleiros. A política brasileira, cansada de parecer um conjunto de dunas que se transplantam pra lá e pra cá, somem e aparecem sem consistência alguma… nossa política também tem cordilheiras assustadoras e hipnotizantes: Dirceu e Genuíno são duas delas. Depois de anos e anos de tentativas de destruição pública, não dá mais para silenciar, é necessário entender o porque disso.
responsabilidades mais áridas, receberem as costas de pessoas que devem muito a eles, enfim, sofrer as piores conseqüências por sustentar algo em que acreditam, nada disso é novidade para eles, que mobilizavam gente e eram mirados por bala que não era de borracha, nem as bombas, de efeito moral. Passaram por isso na resistência contra o regime militar, mesmo que hoje ambos reconheçam que luta armada não é o melhor caminho, na época achavam e fizeram. Nos anos 1980, assumiram publicamente uma proposta de partido que os transformou em “comedores de criancinha”, em plena democratização. A duas décadas atrás, resolveram organizar uma estratégia para assumir o poder e implantar utopias e por isso já começaram a tomar facada nas costas de companheiros que inclusive tiraram proveito disso. Foram os responsáveis por tornar a vitória de Lula possível e em 3 anos de governo caíram (pelas mãos da base aliada), sem sair metralhando todo mundo que ficou. E agora são punidos por um padrão moral que eles mesmos ajudaram a construir, porque estiveram nos “limites da irresponsabilidade”, como diria Sergio Motta (que não teve a mesma “sorte”). Até nisso foram coerentes, e por isso a cabeça erguida.
Hoje, eles se entregam a prisão por penas de um julgamento que ainda não acabou, e assistem o silêncio dos maiores adversários. Eles tem isso porque são portadores desses 50 anos de coerência com o que há de mais precioso e humano nesse planeta: o sonho de que a dignidade de todos os homens e mulheres pode e deve ser buscada sem medir esforços. Pressupostos como honestidade e ética individuais de fato são o mínimo para uma democracia amadurecer: suprassumo é a UTOPIA de justiça social dentro de uma democracia (muitas delas que já assumidas por seus adversários, que depois sucumbiram), é propor algo para a sociedade que ultrapasse regras de comportamento individual. Ideais coletivos que nos cativam a querer mudar o mundo, são a alma de sociedades que avançam. Quem sabe o erro foi olhar só pra cereja do bolo. Mas gostando deles ou não, foram portadores de todas a utopias sociais dos últimos 50 anos. Para bom entendedor, nem morte cerebral coloca o que representam sete palmos abaixo do chão.
Aos adversários ideológicos, o máximo que conseguiram foi tentar enquadra-los num mito de Prometeu à brasileira, mas viram Fênix. Quanto aos que se opuseram a mão de ferro com que estruturaram um projeto de poder, se este não realizou todas a utopias, concretizou várias. Infelizmente, só essa prisão confortou os descrentes a ponto de quem sabe refutarem que “quem deu a idéia de uma nova consciência e juventude, tá.
Afinal, como dizer que eles não venceram? Prisão, difamação, assumir as em casa, guardado por Deus, contando o vil metal”… agora sabem que não estão.

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