segunda-feira, 6 de abril de 2015

‘A história da compra do Pato está mal contada’, afirma Rosenberg

Os torcedores do Corinthians não estão sozinhos nas lamentações e desconfianças em relação à contratação de Alexandre Pato, anunciada em janeiro de 2013. Vice-presidente do Corinthians na época, Luís Paulo Rosenberg revelou que havia negociado durante meses a aquisição do atacante por valores muito menores: o Timão gastaria R$ 14 milhões a menos e ainda teria 100% dos direitos econômicos - o clube pagou R$ 40 milhões ao Milan por apenas 60%. Nesta entrevista exclusiva, o ex-diretor de marketing também detonou Andrés Sanchez, assegurou que não volta mais à política do clube, provocou o São Paulo, ironizou o estádio do Palmeiras, explicou por que o Pacaembu não virou a casa alvinegra…
BLOG_ Depois de cinco anos no marketing do Corinthians e três como vice,como tem sido sua participação na vida do clube?
LUÍS PAULO ROSENBERG_ Não pisei no Parque São Jorge desde que desci doavião de Tóquio (após o título do Mundial de 2012). Eu me senti muito desconfortávelem relação ao modo como as coisas estavam sendo tocadas.
Quais coisas?Tudo. O jeito quadrado como o estádio é tocado, a gestão financeira, o marketing… Teve até um caso de interferência absurda: tínhamos um projeto de fast food e iríamos espalhar totens pela cidade vendendo sanduíche. Aí, o Mario (Gobbi) foi perguntar ao diretor administrativo o que ele achava. Como não tenho o hábito de roubar, trabalhar no Corinthians era só ônus. E, se eu não tenho alegria, vou embora.
Você se considera o maior diretor de marketing da história do Corinthians?Foram anos mágicos, mas sejamos sinceros: até um diretor de marketing medíocre teria feito um arraso. Em 2008, a Série B despertou aquele patriotismo todo. Em 2009, contratamos o Ronaldo. No ano seguinte, centenário do clube. Fomos campeões brasileiros e começamos a construir o estádio em 2011. Aí, em 2012, ganhamos a Libertadores e o Mundial.
O Corinthians faturou R$ 100 milhões a menos no ano passado em relação a 2012. O clube parou no tempo?É preciso mudar bastante coisa, como ter um estádio bem acabado, construir o CT da base e detonar a corrupção… O que a gente vende de jogador? Pelo contrário, compra atleta que não foi criado por nós, com uma série de sócios inexplicáveis, e ainda vende mais barato.  
Tem corrupção na base? Não sei se tem, mas, se eu estivesse lá, tudo seria bem diferente.
Pensa em voltar ao Corinthians?
Nunca. Nem posso, porque cancelei meu título de sócio. Por isso, não sou mais conselheiro e não posso concorrer a mais nada. O cartola tem que ser mortal. Cumpri minha missão, continuo sendo sócio-torcedor, vou ao estádio… Mas quero deixar claro que não tenho mais nada a ver com a administração do Corinthians.
Mas você apoiou o Citadini na última eleição.
E ele sabia que eu não voltaria.
E se lançarem seu nome a candidato à presidência. Você não topa?De jeito nenhum. Não tenho perfil para presidente. Sou muito técnico, preciso ter espaço para fazer coisas aconteceram. Você acha que eu teria saco para sentar com um conselheiro para explicar o que vou fazer? Impossível. Só o Andrés consegue.
Por falar no Andrés, vocês andaram se estranhando, não é?O Andrés na pessoa física é um dos caras mais legais do mundo, de uma lealdade… Se eu não tivesse dinheiro para um transplante de rim da minha filha, por exemplo, é para o Andrés que eu ligaria pedindo ajuda. Nossa amizade está acima de qualquer coisa. Um relacionamento quase de irmão. Mas, discordo de quase tudo o que ele fez desde que deixou de ser presidente do Corinthians.
O que, por exemplo?
Ele não poderia ter aceitado cargo na CBF naquela hora (foi diretor de seleções da CBF a partir de 2011), não poderia ter esperado que o demitissem… Sem contar que o Andrés enveredou para o caminho ditatorial, ficou autossuficiente. Em 2007, quando assumiu como presidente, ele tinha uma insegurança muito grande, então delegava e confiava nas outras pessoas. Hoje, não mais.
Já falou tudo isso para ele?Sim, claro. E a gente dá risada. Temos um relacionamento de irmãos e outro dia, mesmo, estávamos vendo jogo juntos. Mas não estou gostando e fico preocupado, ainda mais agora, no meio daqueles leões de Brasília.
Acha que o Andrés vai se dar mal como deputado federal?Não tenho dúvida de que ele vai se destacar pela correção, defendendo o interesse do povo, mas tenho muito medo de que seja devorado pelos outros. Ele é muito exótico, como o Romário era. Mas o Romário se achou, cresceu e vai ser candidato a prefeito do Rio.
O Mario Gobbi deixou a presidência do Corinthians reclamando do Andrés. Tem a ver com o ego inflado do Andrés?Não acredito. O Mario abriu mão de exercer a presidência. E todo mundo viu o que aconteceu com Juvenal Juvêncio e Carlos Miguel Aidar no São Paulo. Ou seja, ninguém brinca com o presidente do clube. Porque, se brincar, o presidente manda o antecessor para aquele lugar. Até porque o antecessor não tem mais a caneta.
O Roberto de Andrade nomeou o Andrés como superintendente de futebol. Há risco de desavenças?
O entrosamento entre Roberto e Andrés é muito maior do que o com o Mario. Mas a ameaça está lá. Chega a ser desleal o que o Andrés faz, porque ele não tem mulher, não lambe a cria e mora na frente do Parque São Jorge. Como competir com um cara desses, que é corintiano maluco e faz daquilo a sua vida? Para completar, o cara ainda é um trator. Chego a compará-lo ao Eurico, por causa desse amor sufocante ao clube. E só nisso!
O Roberto cogita demitir mais de cem funcionários para colocar as contas em dia. O momento financeiro do clube é dramático, mesmo?Tenho sérias restrições ao Roberto diretor de futebol. Ele pegou o time campeão mundial que um ano depois estava brigando para não cair para a Série B. Sem contar que era bem omisso, aparecia pouco… o Duílio (Monteiro Alves) que carregava o piano. Mas o Roberto diretor administrativo fez mágica.
Naquele primeiro mandato tampão do Andrés?Isso mesmo, de 2007 a 2008. O cara reduziu em um ano o custo do Corinthians em 40%. Cheguei a dizer para ele que dou consultoria há 30 anos e nunca vi alguma empresa conseguir isso. Neste ponto de vista, estou muito tranquilo. E tem outra: ele chamou o candidato a vice-presidente pela oposição (Emerson Piovesan) para ser seu diretor financeiro, ou seja, está convencido de que não haverá maracutaia.
A contratação do Alexandre Pato por R$ 40 milhões foi o pior negócio da história do Corinthians?Eu fiz o pior negócio quando contratei o Defederico. Esse filho da p… nunca jogou no Corinthians. Admito que não sou especialista em futebol, mas o Mano chegou para mim e disse que havia nascido o novo Messi, que era da seleção argentina. O Andrés fez pressão dizendo que eu precisava conseguir dinheiro, se não o perderíamos. Falavam que ele valia US$ 10 milhões e consegui por US$ 5 milhões, antecipando dinheiro de licenciamento, de lojas…
E ele foi embora tendo feito só três gols.O baixinho veio para São Paulo e, no primeiro restaurante que parou, conheceu uma recepcionista de dois metros de altura, se apaixonou e não queria mais saber de treinar. Se bem que eu não faria coisa diferente. Mas o cara não jogou nada em cinco anos de contrato.
É verdade que você quase contratou o Pato por metade dos R$ 40 milhões gastos pelo Corinthians?Em outubro de 2011, me sentei com o Gilmar Veloz (empresário do Pato) e começamos a negociar. Avançamos bastante, até que o sogrão (Silvio) Berlusconi (primeiro-ministro da Itália e dono do Milan) decidiu que o Pato iria ficar lá com a filha dele. Em abril de 2012, retomamos. Lá para junho, a gente falava em R$ 26 milhões por 100% dos direitos. Aí, o Gilmar sumiu de novo.
E quando o Roberto e o Duílio entraram no negócio?Não sei ao certo, mas só descobri que o Pato continuava na mira em outubro, numa reunião de diretoria, quando eles falaram que estavam bem avançados com o Gilmar e pediram uma ajuda para convencer o Mario, que dizia não ter dinheiro. Estranhei, porque nunca tinha ficado fora de nenhuma negociação, mas convenci o Mario e combinamos que, na próxima reunião, eu estaria presente. Aí, estou chegando a Tóquio e me liga o Mario dizendo que contratamos o Pato.
Você sabia que o valor era de R$ 40 milhões por 60% do Pato?Claro que não. Fui descobrir bem depois e fiquei puto. Não sou um negociador tão ruim para ceder tanto. A história da compra ainda está mal contada e me ajudou a querer ir embora.
E o salário de R$ 800 mil por mês?Nunca discutimos um salário desses. O Corinthians tinha um limite que era de R$ 500 mil por mês. Agora, por que pagaram R$ 800 mil…
Há chance de recuperar esse investimento?Para recuperar algum dinheiro, o Pato tem que se dar bem pra caramba no São Paulo, e eu coloco religião acima de dinheiro. Mesmo se eu dependesse do São Paulo para meu patrimônio crescer, torceria contra. E nunca emprestaria jogador nenhum para o São Paulo.
Você detesta mesmo o São Paulo, hein.
O São Paulo tem nojo da gente, do Palmeiras, da Portuguesa. Eles se acham o máximo, mas são uma bosta. Esse presidente que chegou (Aidar) é o pior de todos. O Juvenal Juvêncio ainda tinha alguma categoria. O São Paulo é um mal do futebol. Parece aquela elite decadente, que só tinha dinheiro por causa dos avós.
Falando em São Paulo, qual o futuro do Morumbi?Pode anotar minha profecia: um presidente do São Paulo ainda vai demolir o Morumbi. Eu faria isso urgentemente, abriria uma concorrência entre construtoras e teria um faturamento maior com participação em um shopping e em edifícios comerciais do que o atual. Aí, reformaria o Pacaembu e o assumiria. Inclusive, dou um projeto incrível para eles.
Qual estádio é mais bonito: do Corinthians ou do Palmeiras?Aquele estádio do Palmeiras é um pneu deitado. Não dá nem para comparar. Assim como o Maracanã também não se compara. Nosso estádio tem leveza e mais parece um monumento. E não sou só eu que digo: o Instituto dos Arquitetos do Brasil elegeu nosso estádio como o projeto mais bonito do Brasil.
Mas você era um dos maiores críticos à construção de um estádio em Itaquera.Era mesmo, mas sou tarado por esse estádio. É o projeto mais inovador do mundo. Trata-se da nossa terra prometida.
Por que mudou de ideia?Eu me frustrei muito por não conseguirmos ficar com o Pacaembu. Até hoje não passou, mas tenho que me curvar aos fatos. Alguns jogos de meio de semana contra times pequenos levam 25 mil pessoas, quando no Pacaembu não teria mais de 17 mil. Nas pesquisas, a torcida já garantia que iria. E nem é tão longe assim. Saindo do meu escritório no Higienópolis, chego a Itaquera em 30 minutos.
O que impediu o Corinthians de ficar com o Pacaembu?O prefeito (Gilberto Kassab). E ele vai carregar isso para o túmulo. Tínhamos um projeto maravilhoso para o Pacaembu, que criaria um anel inferior, aproximando a arquibancada ao gramado, construiríamos uma cobertura, haveria anel superior com camarotes… tudo respeitando a legislação e por apenas R$ 110 milhões. Foram dois anos em negociação com a Prefeitura, que queria um projeto da Odebrecht de R$ 260 milhões. Eu disse que pagava os R$ 110 milhões e ficava com o estádio nos dias de jogos, enquanto a Prefeitura bancava o resto e usava como quisesse nos outros dias.
E o prefeito vetou?Ele argumentou que não daria a concessão por causa dos velhinhos (do movimento Viva Pacaembu). Tudo mentira. Isso aconteceu em 2010, no ano do centenário. Eu disse ao Andrés que bastava esperar até 2012, ver quem seriam os candidatos a prefeito e vereadores, fazê-los assinar um compromisso de que fariam a concessão, e teríamos o nosso estádio. Mas o Andrés falou que a Fiel não aguentaria esperar até 2012, e parece que ele tinha razão. 
Por que um estádio que estava orçado em R$ 800 milhões custou mais de R$ 1,1 bilhão?Não dou pitaco no trabalho dos outros e não sei o que aconteceu, mas, quando eu saí, o máximo que se gastaria eram R$ 820 milhões, sendo R$ 420 milhões de CIDs. Nunca encaminhei aditivo nenhum para o presidente assinar, então tem que perguntar para o Andrés.
Mas não é muita diferença?O que me deixa abismado é saber que o Corinthians teve R$ 100 milhões de despesas para fazer a recepção dos convidados da Fifa (na abertura da Copa). Isso é inadmissível. Que não fizesse Copa, então. Primeiro que aquelas barraquinhas não custam R$ 100 milhões. Depois, o que o Corinthians tem a ver com elas? É que o Andrés queria fazer a Copa para tirar o São Paulo da jogada.
O Andrés pediu mesmo para você reassumir o comando do estádio recentemente?Ele sabe que eu sou o cara certo para qualquer coisa que envolva negociação, mas não dá. As coisas lá estão muito avançadas. Sem contar que, se eu assumo, entro na Justiça no dia seguinte contra a Odebrecht, que não me entregou as coisas do estádio que contratei. 
Qual a sensação de ver o Palmeiras com quase 20 mil sócios-torcedores a mais?É um desastre, algo injustificável, absurdo. Mas dá para reverter facilmente com uma campanha agressiva, que garanta benesses. Não há motivo para o Corinthians ter menos de 200 mil sócios-torcedores. 
A contratação do Ronaldo foi seu maior golaço?Com certeza. Trouxemos o Pelé dos tempos modernos sem gastar um centavo, no momento em que o time estava na Série B, ele acabou se pagando, porque os R$ 400 mil de salário voltavam através do marketing, e o cara ainda se apaixonou pelo Corinthians. 
A primeira pedida dele foi mesmo de R$ 2 milhões por mês de salário?Foi o Fabiano Farah (empresário do Ronaldo) quem fez essa pedida. Com aquele jeitão de carioca, ele veio dizer que tinha uma proposta da Arábia de R$ 2 milhões. Eu falei que iria apostar num cara com joelho arrebentado, gordo como um porco e que havia sido pego com três travecos. Mas a coisa só andou mesmo num hotel chechelento no Rio. O Ronaldo disse que topava nossa proposta de R$ 400 mil de salário e 80% do que a gente faturasse vendendo publicidade na camisa. 

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