quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O implacável cassetete anticorinthiano

O cassetete exerce a força coercitiva do Estado. Ele defende preferencialmente os interesses de quem detém o poder. Ele é péssimo na prevenção; mas se excede na repressão. E exerce sua violência especialmente contra o jovem, o negro e o habitante das periferias.
O cassetete é, por natureza, anticorinthiano. Porque o poder tradicional no Brasil nunca engoliu o Corinthians, um clube nascido do povo, para o povo, capaz de tornar o mais humilde um protagonista no teatro das lutas sociais.
O poder tradicional nunca engoliu o Corinthians, uma instituição que derrubou preconceitos, patrocinou o ecumenismo, misturou etnias e promoveu convergências civilizatórias entre membros de diferentes classes sociais.
Os clubes de futebol das famílias letradas e endinheiradas jamais engoliram o Corinthians. Tentaram isolá-lo, imobilizá-lo, impedi-lo de participar das principais competições do ludopédio. Tentaram conduzi-lo à falência.
Representantes do interesse desses poderosos, os jornais tradicionais nunca engoliram o Corinthians. Houve um que pediu a dissolução do Corinthians e a distribuição de seus craques entre os clubes da elite.
Em sua longa e vitoriosa história, o Corinthians sempre foi hostilizado pela prensa e pelo cassetete. Porque o corinthiano é naturalmente identificado como o intruso, como o invasor, como o penetra na festa da gente chique.
Era tido como o time dos “suados”, da “pretalhada”, dos “carcamanos anarquistas”, dos “carroceiros”, do “populacho”, dos “encrenqueiros da Várzea do Carmo”. O poder tradicional nunca engoliu o Corinthians, especialmente quando os corinthianos conquistaram, no dia a dia do labor, a merecida inclusão social.
Pois o povo fiel supera desafios, triunfa e contribui para fazer avançar o rito civilizatório. É o operário que logra êxito na luta por um refeitório digno. É a mulher que converte em lei a proteção à maternidade. É o jovem voluntarioso que constitui seu negócio, desenvolve-se, prospera e inova para o bem de toda a comunidade.
O corinthiano é o lugar de todas as mestiçagens. É o locus dos encontros históricos da fraternidade, a arquibancada de madeira onde um italiano da Calábria divide sua laranja com um japonês de Okinawa, recém-chegado ao Brasil.
E a elite antiga, quatrocentona, bandeirante ou descendente dos cortesãos de Dom João VI nunca engoliu bem a construção desse rito de generosidade cidadã e de vivência plena da democracia.
É lógico, o Corinthians ganhou também a adesão de bacharéis ou de industriais, mas daqueles que se educaram para compreender o corinthianismo e compartilhar os valores solidários de Miguel Battaglia e dos outros heróis fundadores.
A elite ignara, estúpida, mesquinha, no entanto, nunca compreendeu o Corinthians e nutre, ainda hoje, ódio virulento contra o “Time do Povo”.
O que o cassetete faz é materializar esse rancor, essa raiva, essa mágoa contra os sediciosos alvinegros.
Por isso, até recentemente, em seus treinamentos de força bruta, o cassetete público empregava um ator fantasiado de corinthiano para representar o bandido a ser caçado, reprimido e capturado.
O horror do cassetete em 23 de Outubro, no Maracanã, apenas dá prosseguimento à história.
Há daqueles bravos demais do nosso lado, que merecem um pito? Verdade! Mas qual história não se narra do episódio do Maracanã?
Nada se diz da hostilidade contra corinthianos na entrada do estádio carioca. Nada se diz sobre os flamenguistas que tentaram invadir nosso setor nas arquibancadas. Nada se diz sobre a estupidez dos cassetetes que misturavam o ofício público, o tosco bairrismo e a preferência clubística. Nada se diz do cassetete que dispara o spray de pimenta contra os alvinegros, enquanto a seu lado um rubronegro se excede livremente em vandalismos.
O cassetete carioca é vergonhosamente seletivo. O rubronegro tudo pode, mesmo se ferindo flagrantemente a lei. O alvinegro, ao contrário, é alvo de violência antecipada, de preconceito, de humilhações indizíveis, de injustiças que causam repugnância a qualquer bom espírito.
A narrativa dos fatos é editada. Não se conta o antes, tampouco o depois. A TV detratora se vale de imagens que flagram um momento específico do conflito.
Como sempre, generaliza-se a autoria do suposto delito. Criminaliza-se o Corinthians e o corinthiano. É forma também de desviar a atenção, pois em campo o poder, representado pelo apito, agiu deliberadamente para prejudicar o clube visitante.
Essa narrativa adulterada é da imprensa hegemônica, essa mesma que conta os fatos em fatias que interessam ao poder, às oligarquias, às máfias de cartolas corruptos e tubarões atravessadores que controlam o futebol brasileiro.
Criminalizar o torcedor é objetivo maior da rede do plim-plim, esta que vampiriza e envenena o futebol brasileiro. Se os valentes corinthianos a identificaram publicamente como manipuladora, certo é que se tornaram alvo de sua ira. Ela, portanto, recorta os fatos, edita a realidade, omite, distorce e mente, seguindo seu padrão de fraude noticiosa.
E todo esse trágico engodo tem uma razão, que não pode ser esquecida. O Corinthians é luminoso demais, espetacular demais, cresceu contra tudo e contra todos. Concedeu vez e voz aos antes danados da terra, aos pequenos, aos oprimidos, aos humildes capazes de formidáveis realizações.
Com suas vitórias heroicas, inspirou o povo a reclamar direitos, constituir justiça e conquistar protagonismo no teatro das relações sociais. E isso o poder não engole.
O cassetete insano, brutal e ignorante é expressão de seu ressentimento.

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