domingo, 6 de novembro de 2016

O Corinthians vendeu mais do que jogadores

O Corinthians vendeu mais do que jogadores
Vendemos demais, agora é hora de mostrar que nem tudo está à venda
Foto: Cena do filme '1976 - A Invasão Corinthiana'
No começo de 2016 vendemos nosso elenco campeão. Vendemos com alguma facilidade, assim como já aprendemos a vender o patrocínio nas camisas, nas bermudas, nas omoplatas. Vejam vocês: já vendemos tanto que até fomos capazes de vender um lugarzinho atroz nos nossos sovacos.
Vendemos o que tínhamos e até o que não tínhamos, mesmo quando vendíamos para empresas nebulosas.
Foi no manto - que sempre chamamos de sagrado - que começamos a vender cada coisa que era nossa. Vender virou tão parte de nós, que lamentamos muitíssimo o fato de não conseguirmos vender o um dos nossos direitos: o direito de nomear a nossa própria casa.
Vendemos uma nação, transformada em república numa campanha de marketing. Vendemos o tradicional preto e branco para ter o laranja, roxo e azul - industrializados e repetidos à exaustão em vários outros times do mundo. Vendemos até a torcida numa ação fictícia qualquer usaram em vão nosso nome para cantar marcas, ao invés dos nossos hinos. Vendemos a terra da Arena e o mando de campo, vendemos a pré-temporada.
Vender virou tão importante, que agora, ocupa o cargo mais alto no clube, exatamente um reconhecido vendedor. Pagamos o pato, mas até o Pato vendemos.
Nos contaram que vender era bom. Que vender o pouco que tínhamos, daria ao Corinthians aquilo que a gente não tinha: dinheiro, estádio, títulos incontáveis. Éramos (ainda somos?) o time do povo: de alma autêntica, paupérrima, mas ambiciosa. Uma alma endurecida, capaz de resistir à anos sem vitória, porém consciente de que a grandeza do clube merecia algo muito mais grandioso que os campos da várzea.
Só que hoje, perdemos. De goleada. E agora sofremos na derrota, talvez mais do que nunca. Não sofremos os gols tomados, mas sofremos porque, hoje, especialmente há no peito do torcedor uma dor indignada, que há algum tempo incomoda, se agrava. Há o desejo de chorar aquele choro incontido da raiva. E, se choramos hoje é porque nos demos conta de que perdemos mais do que o jogo.
Sofremos porque vemos hoje um castelo de sonhos desfeito. Um mundo de ilusões terminadas. Percebemos que fomos iludidos.
O choro, a raiva e a dor que sentimos hoje é um choro de quem constatou que, no afã de vender, deixamos que negociassem também nossa alma. Tomaram como brindes, a cada negociação, aquilo que nos era mais precioso. Roubaram-nos, enganaram-nos. Tentaram nos despir daquilo que fazia do Corinthians, o Corinthians.
Sofremos de saudade, porque, agora, o maloqueiro e sofredor (graças à Deus) não pode mais se encontrar com o Corinthians. O que restou do Corinthians-vendido? Uma fantasma de um time em campo, arrastado, sem gana, sem alma. Um time vendido, entregue. No meio da goleada, perdemos mais que os 3 pontos, mais que um clássico.
Fomos subtraídos por oportunistas, interesseiros, que viram no Corinthians o potencial e o poder de mover multidões - ao Rio ou ao Japão. Mas, o que eles não contavam é que foram enganados pela também sua própria ganância: talvez porque nada sabiam sobre a verdade deste sentimento.
Eles não sabem que o corinthianismo é chama viva, que não pode ser aprisionado, comercializado. Não tem valor de mercado porque se multiplica, com força e abundância. O Corinthians viverá e sobreviverá ao tempo. E se for preciso, que desmorem as Arenas. Nós não precisamos de nada disso - porque o Corinthians, e só o Corinthians, não é um time que tem uma torcida - é uma torcida que tem um time.
A corrente é forte. Superaremos.

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