sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Home Em Pauta Texto exemplar da Juíza Federal Raquel Domingues do Amaral

Texto exemplar da Juíza Federal Raquel Domingues do Amaral

“Sabem do que são feitos os direitos, meus jovens?

Sentem o seu cheiro?
Os direitos são feitos de suor, de sangue, de carne humana apodrecida nos campos de batalha, queimada em fogueiras!
Quando abro a Constituição no artigo quinto, além dos signos, dos enunciados vertidos em linguagem jurídica, sinto cheiro de sangue velho!
Vejo cabeças rolando de guilhotinas, jovens mutilados, mulheres ardendo nas chamas das fogueiras!
Ouço o grito enlouquecido dos empalados.
Deparo-me com crianças famintas, enrijecidas por invernos rigorosos, falecidas às portas das fábricas com os estômagos vazios!
Sufoco-me nas chaminés dos Campos de concentração, expelindo cinzas humanas!
Vejo africanos convulsionando nos porões dos navios negreiros.
Ouço o gemido das mulheres indígenas violentadas.
Os direitos são feitos de fluido vital!
Pra se fazer o direito mais elementar, a liberdade,
gastou-se séculos e milhares de vidas foram tragadas, foram moídas na máquina de se fazer direitos, a revolução!
Tu achavas que os direitos foram feitos pelos janotas que têm assento nos parlamentos e tribunais?
Engana-te! O direito é feito com a carne do povo!
Quando se revoga um direito, desperdiça-se milhares de vidas …
Os governantes que usurpam direitos, como abutres, alimentam-se dos restos mortais de todos aqueles que morreram para se converterem em direitos!
Quando se concretiza um direito, meus jovens, eterniza-se essas milhares vidas!
Quando concretizamos direitos, damos um sentido à tragédia humana e à nossa própria existência!
O direito e a arte são as únicas evidências de que a odisseia terrena teve algum significado!”

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A verdadeira razão da queda da inflação no governo Temer / Pragmatismo Político/22/02

Você sabe o que derrubou a inflação no atual governo de Michel Temer? A razão, pouco alardeada, seria menos trágica se não fosse tão verdadeira

razão da queda da inflação no governo Temer
Juliane Furno*, Brasil de Fato

Recessão e desemprego derrubam inflação e devolvem o poder de compra aos brasileiros”. Essa frase, veiculada no jornal da Globo News, surtiu ironias e piadas na internet em abril de 2017. Seria menos trágica se não fosse tão verdadeira. O problema do enunciado é a ausência de problematização política.
Inflação é um fenômeno econômico que decorre da “Lei da Oferta e da Procura”. Por exemplo, se na feira tem poucas pessoas que oferecem tomate e muitas pessoas que querem comprar, o seu “preço” vai aumentar. Se, por outro lado, de uma hora para outra, a tarifa da energia elétrica subir, isso impactará na inflação pois quase todos os produtores vão repassar esse aumento da conta de luz no preço final das suas mercadorias.
Assim, o preço da cerveja sobe para o consumidor final porque o dono do boteco tem que repassar para alguém o aumento da conta de energia por ter deixado as cervejas gelando no freezer, que é ligado na tomada; logo, gasta luz.
A inflação cresceu bastante no Brasil em 2015. Os economistas liberais e de direita verbalizaram seu receituário para reequilíbrio dos preços: aumentar a taxa básica de juros, causar recessão econômica, aumentar o desemprego e reduzir os salários.
Para não dizer que estou exagerando, o economista liberal Samuel Pessoa escreveu a seguinte frase: “quanto mais rápida for a queda do salário real, mais rapidamente a inflação (…) convergirá para a meta”. Além dessa, outras frases comuns no mesmo período eram “controlar a inflação tende a envolver sacrifícios no curto prazo, como crescimento mais baixo e desemprego mais alto.” Ou então “o desemprego teria que subir até 8,5% em 2015 para trazer a inflação para a meta em 2016” dita por Alexandre Schwartsman, outro economista que está sempre na mídia hegemônica.
Soluções como essa vêm de um diagnóstico equivocado pois avaliam que o problema da inflação teria sido de “demanda”, ou seja, com o salário mínimo crescendo, o desemprego mais baixo, juros menores e crescimento econômico, os trabalhadores passaram a ter mais dinheiro e pressionaram os preços para cima, já que aumentou o poder de compra sem aumentar a produção de mercadorias ao mesmo tempo.
Ocorre que o problema da inflação brasileira em 2015 esteve ligado a “oferta”: liberação abrupta do preço da gasolina e da energia elétrica somada a uma forte desvalorização do real. Isso comprova a razão da inflação continuar subindo em 2015 mesmo com o aumento sistemático da taxa de juros. Ou seja, como justificar que mesmo “encarecendo” o crédito, a demanda por consumo seguiria aumentando?
Agora vamos tentar entender o momento atual. Em 2017 a inflação brasileira fechou em 2,95% (IPCA). O governo golpista de Michel Temer, a sua equipe econômica e, possivelmente, alguém no seu whatsapp devem ter comemorado!
Acontece que a inflação caiu e está abaixo do centro da meta de inflação exatamente por que a recessão e o desemprego a derrubaram! Isso quer dizer que a inflação está baixa a custo de um problema muito maior do que uma inflação de 10%, como foi em 2015. Naquela ocasião, a elite disse que o fantasma da inflação estava de volta e que a Dilma tinha quebrado o país!
A inflação está baixa porque o Brasil teve um recorde na safra agrícola e pode oferecer mais quantidades de alimentos no mercado – ou seja, a responsável foi a chuva e não o Temer.
Mas a inflação caiu, principalmente, porque os trabalhadores pararam de gastar! E eles pararam de gastar porque a renda média vem caindo sistematicamente, o salário mínimo foi reajustado abaixo da inflação e o desemprego está alto!
Se a pessoa recebe menos ou não recebe nada, ela gasta menos ou não gasta. Se ela não gasta, a indústria fica com seus produtos encalhados, demite trabalhadores, que deixam de gastar porque estão sem emprego. Essa é a lógica na qual a queda do crescimento econômico e o desemprego derrubaram a inflação.
De fato a inflação baixa aumenta o poder de compra porque a moeda não perde tanto valor, mas esse aumento no poder de compra não compensa os efeitos danosos das causa da queda da inflação.
O Brasil tem um “trauma” inflacionário. Mas isso não pode nos cegar para encarar que o remédio para controlar a inflação foi fazer o paciente contrair uma doença bem pior!

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Aluna bolsista comove redes sociais com discurso de formatura na PUC-SP Filha de empregada doméstica, ela criticou "insultos" e "falta de apoio" na Universidade/aluna-bolsista-comove-redes-sociais-com-discurso-de-formatura-na-puc-sp-

Leia abaixo o discurso na íntegra:
Caros colegas, pais, professores, convidados, boa noite. Depois desse discurso animado, eu vim com um discurso rápido para o mesmo e um discurso que fala um pouco da nossa realidade aqui na PUC. Nessa noite tão especial, na qual relembramos nossa trajetória na Pontifícia, gostaria de falar sobre resistência, palavra tão usada por nós ao longo desses cinco anos. Todavia, não quero aqui abranger toda e qualquer resistência. Quero falar de uma em específico, da resistência que uma parcela dos formandos — que, infelizmente, são minoria neste evento — enfrentaram durante sua trajetória acadêmica.
Me dedico à resistência daqueles que cresceram sem privilégios, sem conforto e sem garantia de um futuro promissor, daqueles que foram silenciados na universidade quando pediram voz e que carregaram, desde cedo, o fardo do não pertencimento às classes dominantes.
Me dedico à resistência das famílias que a muito custo mantiveram seus filhos na universidade, à resistência dos estudantes que perderam, no mínimo, três horas diárias em transportes públicos. Hoje, trago a história de jovens sonhadores que há cinco anos atrás iniciaram uma história de resistência nessa universidade. Trago a história de resistência da periferia, dos pretos, dos descendentes de nordestinos e dos estudantes de escola pública.
Nós, formandos bolsistas resistimos à PUC São Paulo, aos sonhos que nos foram roubados e à realidade cruel que nos foi apresentada no momento em que cruzamos os portões da Bartira e da Monte Alegre. Nós resistimos às piadas sobre pobres, às críticas sobre as esmolas que o governo nos dava, aos discursos reacionários da elite e a sua falaciosa meritocracia. Resistimos à falta de inglês fluente, de roupa social e linguajar rebuscado que o ambiente acadêmico nos exigia.
Resistimos também à falta de apoio financeiro e educacional da Fundação São Paulo, aos discursos da vitimização das minorias e à suposta autonomia do indivíduo na construção do seu próprio futuro. Resistimos também aos insultos feitos a nossa classe, aos desabafos dos colegas sobre suas empregadas domésticas e seus porteiros. Mal sabiam que esses profissionais eram na verdade nossos pais.
No mais, resistimos aos professores que não compreenderam nossa realidade e limitações e faziam comentários do tipo: por favor, não estudem Direito Civil por sinopse, porque até a filha da minha empregada que faz Direito na 'Uniesquina' estuda Direito por sinopse. Essa frase foi dita por uma professora de Direito Civil no meu terceiro dia de aula. Após escutá-la, meu coração ficou em pedaços, pois naquele dia soube que a faculdade de Direito da PUC São Paulo não era para mim.
Liguei para minha mãe, empregada doméstica, chorando, e disse que iria desistir. Entretanto, após alguns minutos de choro compartilhado, ela me fez enxergar o quanto eu precisava resistir àquela situação e mostrar à PUC e a mim mesma o quanto eu era capaz de obter este diploma.
Essa história não é apenas minha, mas de todos os bolsistas formandos da PUC São Paulo. Somos os filhos e filhas do gari, da faxineira, do pedreiro, do motorista e da mãe solteira. Por isso, a eles, nossos maiores inspiradores, dedicamos nossa história de resistência nessa universidade. Que nossa história inspire outros jovens pobres a resistirem.
Avante, companheiros. Avante, pois nossa luta está apenas começando. Por fim, como nunca é tarde para dizer, 'Fora Temer'. Muito obrigada.


Leia mais: https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/aluna-bolsista-comove-redes-sociais-com-discurso-de-formatura-na-puc-sp-22411156#ixzz57llo4lqB 
stest 

“Polícia cheira, madame cheira, empresário cheira, jogador cheira, político cheira”: o retrato da intervenção e da ‘guerra às drogas’ no Rio /Kiko Nogueira /DCM

Tropas do Exército fazem patrulha pelas ruas da Rocinha (FOTO José Lucena/Futura Press)
Luciana Mello, dona da empresa Dríade Ambiental, pintou no Facebook o retrato da “guerra às drogas” no Rio de Janeiro. Não é bonito, mas é verdadeiro.
Povo de fora q não sabe como é os esquema aqui no Hell de Janeiro, a parada aqui funciona assim: polícia cheira, madame cheira, puta de luxo cheira, empresário cheira, jogador cheira, atleta cheira, político cheira.
Nenhum deles sobe o morro pra comprar.
Na PUC, no Notre Dame, no Alto Leblon tem quem vende, tudo mocinho de boa família, tudo safado, q nem viciado esses porrinha são.
Os maconheiro do Rio fumam porq acham q tão no direito deles, mas compram de traficante do mesmo jeito, depois fecham o vidro do carro com medo “da violência” q é patrocinada pelo Coelhinho da Páscoa, porq os babaca não se ligam q quem patrocina a violência é o narizinho nervoso deles e dos amiguinhos.
Polícia, exército, marinha, todo mundo vende arma pra quem? Isso aí, pros traficantes. Pra q? Pra galerinha descoladex da zona sul e da Barra ficar na brisa, sentar as venta na branquinha.
Aí o q a galerinha descolada quer? Pô, quer poder andar na rua sem medo de perder o iPhone, quer #Paz. Na bundinha não querem nada, só paz mesm








Paraíso do Tuiuti 2018 - Versão acústica do Samba Enredo

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Copiado de Publicação de Binho Oliveira


"Monteiro Lobato escreveu, há 82 anos, o livro "O Escândalo do Petróleo e do Ferro", roteiro de um processo de redenção econômica nacional que não chegou a se completar.
Nada estranho que agora que o Brasil está sendo tragado pelo monstro imperial, o escândalo da entrega do ferro siga-se ao escândalo da entrega do petróleo.
Abaixo um texto que escrevi há dois anos sobre o então octogenário livro de Lobato."(Preâmbulo do mestre Nilson Lage para o seu excelente texto).
"O escândalo do petróleo
Há exatos 80 anos, meses antes de meu nascimento, rodava no prelo da Editora Nacional um livro-denúncia que apontou caminhos e iluminou esperanças na história política do Brasil: “O Escândalo do Petróleo”, de Monteiro Lobato. Lançado em 5 de agosto numa edição de cinco mil exemplares que logo se esgotaram, trazia dedicatória “às Forças Armadas”: “Exércitos, marinhas, dinheiro e mesmo populações inteiras nada valem diante da falta de petróleo”.
O texto fundiu-se com outro, de 1931, do mesmo Lobato, sobre o minério de ferro abundante no país: “O Escândalo do Petróleo e do Ferro”, editado pela Brasiliense, tirou dezenas de milhares de exemplares, leitura obrigatória dos homens que criaram a Companhia Siderúrgica Nacional e a mineradora Vale do Rio Doce, no início da década de 1940; e a Petróleo Brasileiro, Petrobrás, nos anos 1950 – todas obras de Getúlio Vargas.
Para fundar as duas primeiras empresas, Getúlio negociou com os Estados Unidos o apoio estratégico e militar do Brasil na Segunda Guerra Mundial; fundou a terceira – iniciativa que está na raiz imersa do golpe que o levou ao suicídio, em 1954 – quando se tornou patente que a exploração do petróleo no Brasil não estava na agenda das empresas estrangeiras, ancoradas na afirmação insubsistente de que não havia no país reservas economicamente exploráveis.
Enquanto foram estatais, a CSN e a Vale serviram como base e fonte de recursos para a industrialização do país. A siderúrgica, montada com equipamentos no valor de US$ 18 milhões, idêntica a outras instaladas na década de 1930 nos Estados Unidos, foi modernizada por engenheiros brasileiros a ponto de se tornar tão mais produtivas que isso motivou um episódio de espionagem industrial na década de 1980: queriam saber “como nós fizemos isso”.
Hoje, a CSN, privatizada em 1993, é presidida por um sujeito que, há dias, em vídeo, defendia que os trabalhadores não tivessem horário de almoço: poderiam comer seu sanduíche na linha de produção. Já a Vale, que Fernando Henrique Cardoso doou por preço vil numa operação criminosa de lesa-pátria, fabrica buracos no Brasil e no exterior, competindo em desprezo pelas pessoas e pelo meio ambiente com outras sinistras corporações.
A entrega do petróleo do pré-sal e a posterior liquidação da Petrobras – já dirigida por renomado executivo de massa liquidante – é o fecho de um período histórico que começou com a rebelião dos tenentes, na década de 1920 e de um sonho de independência que motivou minha geração."

Macartismo Brasileiro / Arnobio Rocha


Marcatismo atacou a todos: Esquerda, liberais, intelectuais, artistas.
Marcatismo atacou a todos: esquerda, liberais, intelectuais, artistas.
“Se contar é doloroso, calar também me dói; de qualquer lado, desdita”. (Prometeu Acorrentado – Ésquilo)
No começo dos anos de 1950, nos EUA, o medíocre Senador republicano Joseph McCarthy, do Wisconsin, simbolizou a campanha conta a “onda comunista” em solo americano, como pano de fundo da Guerra Fria. Uma histeria coletiva de delações e listas de artistas, intelectuais que exerciam atividades “antiamericanas”, produziu perseguições, prisões, deportações e destruição de carreiras e vidas.
O Macartismo virou uma chaga na história dos EUA, mas vive se reproduzindo no mundo em escalas diferentes e em épocas bem determinadas. O alvo inicial sempre são os “Vermelhos”, os comunistas (por mais nonsense que possa parecer). O Brasil de vez em quando caí na mesma tentação desse comportamento canalha, francamente fascista.
Desde 2013 a horda fascista tem nos empurrado para o gueto tentam nos constranger publicamente e criminalizar nossas ideias. Essa onda destruidora conseguiu rapidamente a cassação de Dilma, a despeito de não haver qualquer crime de responsabilidade. Ela se consolida especialmente no judiciário, em maior relevo na condução fascista da lava jato que visa destruir uma corrente de pensamento político.
Pode não ser mera coincidência que a a base dessa loucura seja feita por delações e sempre seletivas e direcionadas a um único objetivo, nem há mais disfarce quanto ao que perseguem, o juiz-justiceiro disse com todas as letras: “Estamos em tempos excepcionais (…) De maneira nenhuma eu defendo qualquer excepcionalidade”. (Uol, 04/06/2016)
O governo golpista de Temer-Serra, com baixa popularidade e baixa credibilidade, lançou uma ampla campanha institucional com o lema: “Tirar o pais do Vermelho”. É um ato de provocação, de desrespeito político e perseguição generalizada a qualquer um que se identifique com as ideias de esquerda, que é simbolizada no Vermelho. Calar a todos, eliminar os focos de resistência e, assim, poder entregar o país ao FMI e às empresas estrangeiras.
Estamos à beira de uma ruptura violenta do que sobrou de democracia no Brasil e seremos nós (os Vermelhos) usados como desculpa para o ataque selvagem.
A repressão começa seletivamente, depois se ampliará a toda sociedade e aos comportamentos diferentes (sexuais, religiosos, sociais), que serão proibidos e perseguidos, diretamente, ou sutilmente, silenciar quem pensa diferente nas escolas (sem partido), no trabalho (demissões por ideologia) e no convívio social (isolar que é de esquerda). 
A questão é que esse ódio e a fome produzida por esse ambiente fascista não se contentará com os “vermelhos”, atacará todos diferentes.
Muito em breve qualquer opinião crítica será levada aos tribunais e sujeita à multa ou privação de liberdade. Recentemente Gilmar Mendes venceu duas ações francamente persecutória aos seus críticos, a ironia é que foi esse mesmo que acusou o PT de criar um “estado policial”. Vejamos: Tudo aquilo que diziam sobre os vermelhos que controlariam a imprensa e fariam um estado policial, eles fazem e farão violentamente.
Ontem fui acusado de fatalista, infelizmente só espero que esteja errado, mas não parece que esteja. Bem, agora chega, isso aqui não é muro de lamentações e também todos estão surdos, não adianta bradar mais.
Melhor calar e esquecer.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Nassif: Fator Tacla Duran implode a manipulação forjada da Lava Jato; sem ter como explicar falsificação de documentos, destroem-se as provas 07 de fevereiro de 2018 às 10h13

Xadrez da grande manipulação da Lava Jato
Para não se perder nas siglas, um pequeno glossário:
DOE – Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, que administrava o caixa 2 e as propinas do grupo.
Drousys – sistema criptografado de troca de mensagens.
MyWebDay – sistema criptografado que fazia a contabilidade do DOE.
​Peça 1 – O livro de Tacla Duran
No dia 19/09/2017, no artigo “Xadrez sobre a falsificação dos documentos na Lava Jato, o Jornal GGN trazia à tona as primeiras revelações do livro do advogado Rodrigo Tacla Duran sobre a Lava Jato. Era uma prova colocada por algumas horas em um site.
Prestador de serviços da Odebrecht, profundo conhecedor dos sistemas utilizados pela empresa– o Drousys e o MyWebDay, o livro trazia duas denúncias de impacto.
A primeira, é que parte relevante dos extratos do Meinl Bank foram falsificados.
Havia seis evidências definitivas sobre a falsificação.
Evidência 1 – extrato da Innovation com somas erradas.
Evidência 2 – extratos com erros são diferentes de outros extratos do mesmo banco apresentados em outras delações.
Evidência 3 – os extratos originais do banco apresentam números negativos com sinal -, ao contrário do extrato montado, em que eles aparecem em vermelho.
Evidência 4 – a formatação das datas de lançamento é totalmente diferente de outros documentos do banco, que seguem o padrão americano: Mês/Dia/Ano.
Evidência 5 – a formatação nas datas de lançamento é idêntica ao da planilha PAULISTINHA, preparada por Maria Lúcia Tavares, a responsável pelos lançamentos no Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
Evidência 6 – nos anexos da delação de Leandra A. Azevedo consta ordem de pagamento, com data de 28 de setembro de 2012, de US$ 1.000.000,00 da conta da Innovation para a Waterford Management Group Inc.
Mas no extrato bancário supostamente montado, a transferência consta como saída de 27 de setembro de 2012, ou seja, antes da ordem de pagamento.
A segunda denúncia é que a Lava Jato tentou impor condições para aceitar o acordo de delação de Tacla Duran, uma das quais era a de endossar uma versão que, segundo ele, não correspondia à verdade. E, para tanto, chegou a ameaçar de envolvimento seus familiares.
As delações passam, então, a serem analisadas com lupa pela parcela do jornalismo não comprometida com a operação. Descobre-se, então, que a Lava Jato deixou de fora da delação de João Santana e esposa a maior conta maior saldo no exterior. E que o advogado do casal é irmão de um dos procuradores da Lava Jato.
Mais: o melhor amigo do juiz Sérgio Moro, Carlos Zucolotto Júnior, apresentou a Tacla uma proposta delação que reduziria de US$ 15 milhões para US$ 5 milhões a multa, mediante o pagamento de outros US$ 5 milhões por fora. No dia seguinte ao da proposta, Tacla recebeu e-mail de procuradores da Lava Jato propondo um novo acordo de delação nos mesmos moldes conversados com Zucolotto.
Para disfarçar a redução da pena pecuniária, os procuradores recorriam a uma esperteza. A pena ficava em US$ 15 milhões a serem confiscados de determinada conta corrente – que a Lava Jato sabia, de antemão, estar vazia. Nada encontrando, seria substituída por outro confisco, de US$ 5 milhões, a sair de uma segunda conta de Tacla Duran, esta sim, com fundos.
A partir das revelações de Tacla Duran, começa a ser desvendada todo o edifício montado pela Lava Jato, em cima de delações forçadas e – mais grave – da suposta falsificação de provas.
De fato, na mega-delação de executivos da Odebrecht, as únicas únicas provas apresentadas eram justamente extratos capturados dos sistemas Drousys e MyWebDay.
Nossa história começa assim. Já sabendo o final, vamos voltar ao começo, quando a Lava Jato consegue negociar a mega-delação com a Odebrecht e as supostas informações provenientes dos dois sistemas eram distribuídas à imprensa e incluídas nas peças de acusação.
Como todas as estratégias e movimentos da Lava Jato eram buzinados para seus jornalistas de confiança, a reconstituição das reportagens dá uma ideia precisa do que se passava na cabeça de juiz, procuradores e delegados, à medida em que as revelações sobre os sistemas da Odebrecht lançaram suspeitas fundadas sobre a manipulação de provas.
Peça 2 – Odebrecht promete entregar Lula e Dilma
No dia 23/03/2016, a Polícia Federal saiu a campo com 28 mandados de condução coercitiva contra executivos da Odebrecht. Selecionou três dos principais executivos, deu-lhes a chamada prensa, para que voltassem para o grupo e convencessem os colegas da necessidade de delatar. Foi o que teria convencido o patriarca Emilio Odebrecht e o filho Marcelo a concordar com a delação.
Os procuradores já tinham lista de condições, de acordo com reportagens divulgadas por seus porta-vozes na imprensa:
* que a Odebrecht desistisse dos processos na Suíça, que impediam a remessa dos arquivos do Drousys e do MyWebDay;
*que entregasse provas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e fornecesse provas de financiamento ilegal de recursos para as campanhas da presidente Dilma Rousseff, inclusive a extensão total dos pagamentos ao marqueteiro do PT, João Santana, no Brasil e no exterior.
Ou seja, desde o primeiro momento, a entrega dos arquivos do Drousys e do MyWebDay eram condições essenciais para o acordo de delação.
Peça 3 – a Polícia Federal de Brasilia enxerga os furos nas delações
Assim que as delações da Odebrecht chegaram ao Supremo, e saíram do círculo de cumplicidade do Paraná, delegados da Polícia Federal identificaram várias inconsistências, que  comprometiam a checagem das informações passadas por Curitiba para a Procuradoria Geral da República.
Criticavam o exagero no número de delatores, a mudança de versão por alguns deles, e a falta de acesso aos dados que controlavam as planilhas de repasses de dinheiro, caixa dois ou propina, a parlamentares.
Nos seus relatórios internos, segundo a mídia, a PF apontava mais problemas, com a ausência de documentos que corroborassem as delações.
Os delegados que atuavam junto ao STF pediram acessos aos dois sistemas, o Drousys e ao MyWebDay. Aparentemente, não conseguiram.
Com as delações da Odebrecht sob suspeita, junto aos setores que atuavam no próprio STF, a partir de agosto agosto de 2017 a Lava Jato começou a vazar as primeiras informações sobre os sistemas do Departamento de Operações Estruturadas (DOE) da Odebrecht, visando criar uma blindagem com a opinião pública.
No início de agosto, a defesa de Lula já solicitava acesso aos arquivos o que, segundo ela, confirmaria que o ex-presidente nunca recebeu dinheiro ilícito da Odebrecht.
No dia 08/08/2017, o procurador Deltan Dallagnol informou que a Odebrecht havia entregue à Lava Jato cópias dos dispositivos de acesso de usuários ao sistema. Segundo Dallagnol, o material havia sido extraído por autoridades suíças dos servidores da Odebrecht.
Nos dias seguintes, a empresa repercutia a notícia do tal “arquivo bomba”. Segundo os relatos, investigadores da Lava Jato teriam dito que o sistema atingia políticos, empresários, membros do Judiciário, tribunais de conta e diplomacia. Como saberiam sem ter acesso aos sistemas?
Peça 4 – o lawfare em torno do Sistema
A partir daí a força tarefa passou a disseminar notícias, todas tomando como base os arquivos dos dois sistemas da Odebrecht.
A força-tarefa apresentou ao juiz Sérgio Moro os primeiros balanços das informações supostamente extraídas do Drousys e que indicariam que o dinheiro para compra de um terreno para o Instituto Lula partiu do DOE, o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
Mencionava as empresas offshores da Odebrecht no Panamá, América Central, Antigua e Barbuda, no Caribe.
Montava ilações de toda ordem. Um dos sócios da empresa que era dona do terreno supostamente destinado ao Instituto Lula, Mateus Baldassari, em 2010 declarou à Receita cotas da empresa Jaumont, registrada nas Ilhas Virgens Britânicas. Pois o Drousys indicava que em janeiro de 2011, a Constructora Internacional del Sur, registrada no Panamá em nome de Olívio Rodrigues Júnior –operador de propinas da Odebrecht–, transferiu US$ 537.575 (R$ 940.541,22) para a Jaumont.
Dizia-se mais. Em novembro de 2010, o DOE previu pagamento para uma empresa chamada Beluga Holdings Ltda. A fonte pagadora seria a Innovation, offshore registrada em Antigua e de propriedade de Olivio Rodrigues Júnior e Marcelo Rodrigues, operadores de propina da Odebrecht.
As informações – com as respectivas ilações – eram despejadas aos borbotões na mídia, sem que ninguém, nem repórteres nem advogados, tivessem acesso aos dados originais. E nem se importassem de solicitar, tal o grau de degradação da cobertura jornalística, com repórteres operando como braços da polícia.
A defesa de Lula insistiu em ter acesso ao sistema MyWebDay, de onde vinham as supostas informações.
Em resposta a Sergio Moro, Dallagnol informou que o MyWebDay ainda não tinha sido acessado pelo MPF. Segundo ele, a Suíça não tinha compartilhado os dados e Hilberto Mascarenhas, o diretor do DOE, que supostamente teria as chaves da criptografia do sistema, havia afirmado ter se desfeito delas.
Não explicava o fato de vários documentos supostamente originários do sistema terem sido divulgados para a imprensa e constado das delações como provas contra Lula.
Peça 5 – O questionamento das informações do sistema
A defesa questionou os documentos e pediu a realização de exames grafoscópico e documentoscópico”. O ponto central de desconfiança era uma ordem de pagamento com duas versões, uma com apenas uma assinatura e a outra com duas. Além disso, havia um papel com anotações manuscritas, com dois tipos de caligrafia, uma a tinta outra aparentemente a lápis, sem que os autores fossem identificados.
Finalmente, um e-mail com anotações manuscritas, atribuídas a Marcelo Odebrecht, sem nenhuma prova de sua autenticidade.
Em 13/09/2017 o juiz Sérgio Moro tomou duas decisões. A primeira, foi solicitar à força tarefa que extraísse todos os dados relativos a Lula nos sistemas do DOE. A segunda, foi negar à defesa de Lula acesso aos arquivos.
“Inviável fornecer cópia dos sistemas Drousys ou MyWebDay à defesa de Luiz Inácio Lula da Silva ou a qualquer outra”, decidiu Moro, em despacho. “Além das dificuldades técnicas, pois são vários HDs, os sistemas contêm informações relevantes para outras ações penais”, alegou ele.
Percebia-se, ali, o incômodo de Moro e da Lava Jato com a possibilidade de serem comprovadas as manipulações dos sistemas. A estratégia foi manter a perícia sob estrito controle da Lava Jato.
Peça 6 – a Lava Jato tenta manter controle total sobre sistema
Todo o material estava guardado com a Procuradoria Geral da República. Foi feito o pedido para os arquivos serem transferidos para a Polícia Federal e para os procuradores da Lava Jato. Coube ao delegado Igor Romário de Paula, da Polícia Federal (PF), indicar a Moro dez peritos de confiança para vistoriar o Drousys e o My Web Day.
O cronograma assinado pelo delegado Felipe Hayashi estimou em 26 horas a análise dos 18 HDs fornecidos pela Odebrecht. Os trabalhos foram realizados no dia 30/10/2017. Estava previsto uma “cópia espelho” para uma perícia a ser feita pela PF de Curitiba entre os dias 9 e 10 de novembro.
Mais uma vez, a defesa ficou de fora. Ela, e seus assistentes técnicos, só teriam acesso aos sistemas após o fim da perícia, e sob supervisão da equipe de peritos da PF, que já teriam mapeado os conteúdos mais explosivos.
Foram aceitos os técnicos indicados pela Odebrecht, já que “a empresa é a detentora do sistema e prestará auxílio constante à equipe de peritos”.
Era evidente a intenção da Lava Jaot de manter todo o conteúdo dos sistemas sob sua estrita vigilância, o que lhe garantia o controle total sobre as delações.
Peça 7 – Tacla Duran fala
No início de novembro, os deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous, integrantes da CPI da JBS, viajaram a Madri e entrevistaram Tacla Duran.
Outro dado apresentado era a de um extrato que em determinada data tem saldo positivo. No mesmo anexo, juntado pelo delator, na mesma data o saldo está negativo.
O extrato só poderia ser verídico se houvesse movimentação nessa data, no mesmo dia, entre a emissão de um extrato e outro. Mas, segundo Tacla, seria impossível. Primeiro, porque as contas já estavam totalmente bloqueadas. Segundo, porque o beneficiário da conta já estava detido em Curitiba. Além disso o sistema do banco também foi fraudado para impedir o rastreamento do dinheiro, denunciava ele.
Tacla referiu-se também à conta Deltora, vinculada ao marqueteiro João Santana e à esposa Mônica Moura, que simplesmente não aparecia nos inquéritos, denotando alguma espécie de acerto entre o casal e a força tarefa.
Peça 8 – Moro evita interrogar Tacla Duran
No dia 04/12/2017 deveria ocorrer audiência em Madri, entre os procuradores de Curitiba e Rodrigo Tacla Duran, depois de ele ter acusado o amigo de Moro de ter proposto ajuda em delação, mediante pagamento por fora.
A audiência acabou não se realizado e a força tarefa não quis explicar as razões. Estavam confirmadas as presenças de três procuradores de Curitiba, entre eles Roberson Pozzobon e Orlando Martello. Mas nenhum dos membros da força-tarefa compareceu ao compromisso solicitado às autoridades espanholas pela própria Lava Jato.
GGN quis saber as razões da desistência. A resposta foi sucinta: “Sobre seu pedido, a força-tarefa Lava Jato não irá se manifestar”.
Peça 9 – A Polícia Federal reclama que a PGR retém os sistemas
No início de dezembro, cinco meses após receber os autos do inquérito instaurado com base na delação da Odebrecht, a Polícia Federal se queixou que o MPF não havia lhe disponibilizado o acesso aos dois sistemas, o Drousys e o My Web Day.
Mas como assim, se os jornais haviam divulgado até o calendário de auditoria nos sistemas?
Dizia despacho assinado pelo delegado de Polícia Federal Álex Bersan de Rezende:
“Registro que desde a chegada destes autos no âmbito da Polícia Federal, em 02 de julho de 2017, transcorreram pouco mais de 05 (cinco) meses sem que os sistemas de comunicação e contabilidade paralela da Odebrecht tivessem sido disponibilizados pelo Ministério Público Federal à Polícia Federal para realização da perícia técnica, com as cautelas necessárias, e posterior acesso aos dados para comprovação ou não do teor dos relatos dos colaboradores”, escreveu o delegado.
Vai-se atrás das razões e a demora se devia ao próprio Ministério Público Federal do Paraná. A PGR dependia exclusivamente da oficialização do pedido de Sérgio Moro, que, por sua vez, dependia do pedido formal dos procuradores da Lava Jato. E nunca feio.
Segundo os procuradores de Curitiba, a razão da demora é que “estão sendo adotadas providências para que as informações possam ser utilizadas de modo seguro”. Portanto, nesse caso,  o jogo de manipulação não deve ser debitado ao MPF como um todo, nem à PGR, mas exclusivamente ao grupo de Curitiba.
Peça 10 – a defesa de Lula insiste em pedir acesso aos sistemas
À esta altura, estava relativamente claro que a Lava Jato tinha se enredado nas próprias artimanhas que armou. As denúncias de Tacla Duran haviam jogado os dois sistemas – o Drousys e o MyWebDay – no centro da disputa. E os procuradores não encontravam maneira de ocultar as pistas das falsificações ocorridas.
Como declarou Tacla Duran, em seu depoimento na CPI da JBS, “esses extratos são falsos e já foram periciados. No caso da denúncia do presidente Michel Temer, esses extratos que foram aportados, eles demonstram que o sistema foi manipulado. A partir do momento em que o sistema foi manipulado antes, durante e depois do bloqueio, as provas, no meu entender, são viciadas. Todas as provas que saem daquele sistema, a partir daí, são viciadas”.
Mesmo com a Polícia Federal, e seus 10 peritos de confiança, analisando os sistemas, no dia 6/12/2017 o MPF solicitou nova perícia em um equipamento que armazenava cópia do sistema Drousys, dois discos rígidos e um pen drive. A intenção era verificar a autenticidade das informações e “encontrar eventuais registros relacionados ao terreno supostamente destinado ao Instituto Lula”.
Como se recorda, em agosto a Lava Jato divulgou documentos supostamente armazenados no Drousys dando conta de que o DOE foi utilizado pela Odebrecht para pagar parte do terreno destinado ao Instituo Lula.
Segundo seus porta-vozes na imprensa, o pedido de perícia visava responder ao pedido dos advogados de Lula. Obviamente, a perícia não incluía peritos independentes.
Aumentou a desconfiança sobre as intenções dos procuradores.
O livro de Tacla Duran escancarou a armação que era canhestra: alguns dos extratos falsificados tinham as datas em português, revelando o uso de Excel para montar o extrato. Em vez de considerar as novas provas, os bravos procuradores tratavam, agora, de esconder o rinoceronte debaixo do tapete, e apregoar que o rabo que ficou de fora era do contracheque para Lula.
Peça 11 – o TRF4 ajuda a blindar a Lava Jato
Em 13/12/2017, a defesa de Lula foi ao TRF4 solicitar acesso ao sistema. A 8ª turma – a mesma que condenou Lula, com os três desembargadores combinando a sentença – negou mais uma vez o acesso.
O próximo passo seria pedir para as instâncias superiores. E, aí, sairia fora do controle do pacto de sangue Moro-Procuradores-Delegados.
No meio do mês, ex-funcionários da Odebrecht, denunciaram ter sido pressionados a assumir a culpa na época da delação.
Um deles, Paulo Melo, executivo que participou da negociação de um terreno comprado para o Instituto Lula, pediu a absolvição e afirmou não ter visto nada de errado na relação entre a empresa e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Carlos Armando Paschoal e Emyr Costa, que participaram das obras do sítio de Atibaia (SP) que era frequentado por Lula e foi reformado por empreiteiras, também pediram para ser inocentados. Eles dizem que só cumpriam ordens e negam ter cometido crimes.
Procuradores pediram o cancelamento de todos os benefícios concedidos a eles, por conta da delação premiada.
No final, havia 11 réus da Odebrecht. Restaram apenas 10 delatores. E parte deles certos de que foram colocados em uma armadilha, ao admitir crimes que não haviam cometido, em um momento em que a Lava Jato infundia terror em todos os suspeitos.
Tudo isso, em uma quadra em que o STJ ou o STF poderiam autorizar os advogados de Lula a acompanhar a perícia nos sistemas.
Peça 12 – a Lava Jato joga a toalha
No dia 29/01/2018, o Globo traz a revelação bombástica. O procurador Carlos Fernando dos Santos, um dos coordenadores da Lava Jato, informou não ser possível abrir o sistema My Web Day.
O sistema tinha duas chaves de criptografia, que foram perdidas. Ou seja, o maior acordo de delação e de leniência da história, com valores superiores a R$ 10 bilhões de multas, mais de 170 delatores, não tinha duas pequenas chaves de criptografia, essenciais para abrir o sistema central – justamente o que continha supostamente todas as provas documentais das denúncias formuladas.
Segundo a cândida explicação da Lava Jato, “quando fechou o acordo com a Odebrecht, o MPF esperava ter acesso aos dois sistemas — para conseguir cruzar dados de fontes distintas e corroborar informações de depoimentos dos 77 colaboradores”.
O procurador Carlos Fernando admitia que “ não foi possível verificar os dados com os pen drives entregues pela empreiteira, as circunstâncias em que outros pen drives de acesso ao mesmo sistema foram destruídos ou apagados estão “sob investigação”.
Mais que isso. A porta de entrada no sistema eram tokens que geravam as senhas. Segundo informa O Globo, o próprio Marcelo Odebrecht, em depoimento à Polícia Federal, havia informado que o executivo que tinha as informações sobre os tokens era Maurício Ferro, diretor-jurídico da empresa.
No entanto, a força tarefa conseguiu dois tokens que pertenciam a funcionários de escalão inferior. E não testaram os tokens no momento da entrega.
Maurício Ferro sequer foi ouvido.
Peça 13 – as narrativas possíveis
Confirma-se, assim, a narrativa mais óbvia para essa série de patacoadas, antecipada há alguns meses pelo GGN.
1.     A Lava Jato obrigou os delatores da Odebrecht e delatar Lula. Era a condição essencial para a delação ser aceita.
2.     Como delação tem que apresentar provas, e como não existiam as provas do que diziam, recorreram à falsificação dos extratos do Banco Meinl e do sistema de conversas do Drousys.
3.     O fator Tacla Duran implode a manipulação forjada.
4.     Sem ter como explicar, destroem-se às provas.
Uma segunda hipótese é a seguinte:
1. Ao abrir a My Web Day, a força tarefa constatou que havia provas que envolviam políticos aliados, membros do Judiciário, do TCU e do próprio MPF.
2.Em vista disso, decidiu destruir às provas, ainda que à custa de perder parte relevante das acusações contra Lula.